27/08/2024

Investimento superior a 360 mil euros vai reabilitar edifício situado no Beco dos Redemoinhos e rua D. Hugo. 

 

Esta não é apenas uma obra de reabilitação, por se realizar num ícone da cidade do Porto. Há quem diga que é a casa mais antiga do Porto, uma vez que se supõe que a sua construção date da primeira metade do século XIV, podendo o seu aspeto, caraterizado como flamengo, ser influência proveniente da Flandres, mais propriamente dos Países Baixos. A obra está a cargo da empresa municipal Porto Vivo, SRU, e vai permitir requalificar o edificado, que será constituído, no final da obra – programado para dezembro de 2025 -, por uma habitação e por um espaço disponível para serviços. O fogo será destinado ao mercado de arrendamento acessível, reforçando assim a oferta promovida pelo Município.

 

De acordo com a memória descritiva do projeto, pretende-se, para a vertente habitacional, privilegiar a abertura dos espaços, promover a reabilitação da área útil e a iluminação natural e ventilação. Quanto à solução arquitetónica para a parte alocada a serviços, a principal premissa foi a de tentar “manter tanto quanto possível o existente e o que não for possível, ser substituído por estruturas leves, de fácil reconversão, e de materiais compatíveis”.

 

Segredo bem guardado ou relíquia por descobrir?

Talvez o facto de o acesso à fachada amuralhada ter de ser feito através de um portão, explique por que motivo este edifício icónico não se conta (ainda) entre os mais famosos da cidade. Localizado no Beco dos Redemoinhos, assim chamado devido às azenhas que ali terão existido, diferencia-se pela chaminé colocada ao cimo da fachada.

 

Pensa-se que neste local, a determinada altura, tiveram residência alguns importantes membros do Clero, no então designado Cabido, que mais não era do que uma comunidade de eclesiásticos que aconselhava o bispo no governo da diocese. Com o decurso do tempo, as torres/habitações foram sofrendo degradação e deixaram de cumprir com conforto a função para a qual haviam sido construídas. Assim, por volta do ano de 1500, os edifícios começaram a ter outra serventia, nomeadamente a de estrebarias, palheiros e residências de elementos menos eminentes na sociedade da época. Terá sido no final do século XVI que o edifício original conheceu o estado de ruína, provavelmente devido ao desmoronar da torre. Começou, então, a nova vida – flamenga – deste edifício.

 

Reabilitar é  acarinhar o património

Reabilitar é uma forma de acarinhar o património da cidade. A responsabilidade é acrescida quando a intervenção ocorre em edifícios com uma carga icónica tão relevante. Trata-se de um trabalho de índole intergeracional, que pretende respeitar valores culturais provenientes do passado, dotar a cidade – já hoje -, de soluções habitacionais qualificadas, e, não menos importante, dar aos vindouros a oportunidade de conhecer a idiossincrasia da cidade.

 

A obra ficou a cargo da Porto Vivo, SRU, porque se considerou a vasta experiência no trabalho de filigrana que esta tem vindo a realizar, ao longo de 20 anos, designadamente no Centro Histórico. A empresa municipal, recorde-se, tem vindo a promover, para além da reabilitação urbana, o aumento do mercado de arrendamento acessível na cidade, tendo já disponibilizado mais de 340 habitações.

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